Transição Energética para o Estado de São Paulo é tema de Centro de Pesquisa da UNICAMP
“Aproximar a Universidade da gestão pública de energia no Estado e contribuir com o governo para que São Paulo faça uma transição energética mais adequada e acelerada”. Luiz Carlos da Silva, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Universidade Estadual de Campinas (FEEC/Unicamp) e coordenador do GGUS – Grupo Gestor Universidade Sustentável (DEPI) , é categórico ao afirmar que a transição para fontes renováveis é uma das saídas para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Foi a partir desse debate que se constituiu o Centro Paulista de Estudos da Transição Energética (CPTEn), aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no programa Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs).
O CPTEn promoverá pesquisas interdisciplinares a partir de oito eixos temáticos, reunindo engenheiros, economistas, advogados, educadores, cientistas da computação, políticos, geólogos e jornalistas. Essa ação se soma ao trabalho que vem sendo realizado desde agosto de 2017 na Cidade Universitária Zeferino Vaz, sede da Unicamp em Campinas.
“O projeto, que terá duração de cinco anos, só foi possível porque já tínhamos um laboratório vivo, o campus da Unicamp, para estudar problemas e as soluções utilizadas nas cidades do futuro. No Laboratório Vivo de Transição, Eficiência e Sustentabilidade Energética Campus Sustentável foi possível identificar problemas de gestão em um ambiente real, onde convivem diariamente cerca de 50 mil pessoas e onde há uma rede própria de energia elétrica, além de um sistema de mobilidade urbana. Esse ambiente serve de espaço de experimentação”, destaca o professor, assinalando a possibilidade de transposição das iniciativas para fora do ambiente universitário.
Segundo o coordenador do CPTEn, a matriz energética brasileira é majoritariamente renovável, mas a produção de energia é um dos fatores de alto impacto ambiental, dadas as enormes emissões de poluentes ligadas ao setor. Além disso, o cenário nacional apresenta significativas falhas de eficiência.
“No Estado de São Paulo, são 30 mil unidades consumidoras ligadas à gestão estadual nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Entre elas, temos 5 mil escolas públicas, hospitais e presídios”, exemplifica. São essas instalações com diferentes características que o CPTEn pretende estudar, buscando reduzir o desperdício.
O Brasil oferece acesso universal à energia elétrica, hoje disponível para mais de 99% da população. Mas é possível melhorá-lo. “Uma parcela dos consumidores tem acesso precário a ela, principalmente na Região Amazônica. Um dos temas que pretendemos abordar no CPTEn são soluções baseadas em energias renováveis para essas comunidades isoladas”, explica o coordenador.
O planejamento engloba também a formação de profissionais e usuários. “Um problema que atacaremos está na área de educação e capacitação, a chamada “reeducação energética”. As pessoas precisam reaprender a conviver com a energia, pois o desperdício contribui para a situação insustentável que vivemos”, explica. Isso é necessário, pois a transição energética traz muitas mudanças nas tecnologias associadas à produção, uso e gestão da energia elétrica.
Outra questão a ser aprofundada no CPTEn é a contratação de energia. “Esperamos atuar para que os agentes públicos, grandes consumidores de energia, possam migrar para o mercado livre e assim comprar uma energia mais barata, diminuindo os custos dos serviços prestados pelo Estado, o que terá efeitos nos custos arcados pela sociedade”, esclarece. Conforme o pesquisador, essa ação visa a atingir cerca de 30 mil unidades consumidoras somente no Estado de São Paulo, podendo beneficiar também agentes públicos espalhados por todo o país. Organizado em dois grupos, o mercado de energia brasileiro é formado pelo Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e o Ambiente de Contratação Livre (ACL). No ACL, existe concorrência entre os fornecedores para atender aos grandes clientes. A Unicamp, por exemplo, compra energia do ACL há quase duas décadas, economizando anualmente cerca de 10 milhões de reais. Nesse ambiente, a energia é mais barata, uma vez que os contratos são de longo prazo e há concorrência entre fornecedores. Com isso, alcança-se uma redução de 20% a 30%, comparado ao preço do ACR. Entretanto, a Unicamp é a única universidade pública inserida nessa negociação.
Acesso à informação
Outra inovação que o Centro Paulista de Transição Energética (CPTEn) propõe é o Plano de Comunicação (PaCom), estimulando uma mudança cultural para o fomento da sustentabilidade. De acordo com Barbara Teruel, professora da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) e coordenadora de comunicação do CPTEn, o acesso à informação científica é indispensável para a participação das pessoas nas tomadas de decisões de uma sociedade. Uma das principais atividades dessa estratégia é a produção de conteúdos sobre as pesquisas em desenvolvimento para público amplo e especializado.
“A meta é possibilitar que as realizações do Centro estejam acessíveis e façam sentido aos diversos públicos, contribuindo não apenas para o desenvolvimento dos diferentes projetos, mas também com uma mudança cultural que fomente a inovação e a sustentabilidade”, pondera a coordenadora. Além disso, o PaCom contribuirá para a formação de comunicadores e divulgadores de Ciência.
Parcerias
O CPTEn conta com uma série de parceiros. Entre as universidades brasileiras, estão: Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo — campus Avançado São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” — campi Sorocaba e São João da Boa Vista, Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Goiás e Centro de Tecnologia de Informação Renato Archer. Dentre as estrangeiras, a Lappeenranta-Lahti University of Technology e a Delft University of Technology (TUDELFT), dos Países Baixos. As empresas Companhia Paulista de Força e Luz, Companhia Piratininga de Força e Luz, Companhia Jaguari de Energia, RGE Sul Distribuidora de Energia S.A, Empresas Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) e a Radaz Indústria e Comércio de Produtos Eletrônicos Ltda, bem como a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo também apoiam o Centro.
Hugo Figueroa, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação (FEEC) e coordenador de parcerias do CPTEn destaca a importância das parcerias para a proposta. “A interação com essas instituições-parceiras permitiu a elaboração de um plano de trabalho com alto grau de originalidade, harmonioso, coerente e de altíssimo nível científico e de inovação, alinhado com a realidade do mercado e visando soluções efetivas para os problemas urgentes da sociedade paulista na questão da transição energética.”
Essas empresas mantêm um histórico de colaboração com os vários grupos de pesquisa da Unicamp que compõem a equipe do CPTEn. O objetivo é consolidar as atuais parcerias e ampliá-las, promovendo a conexão desse ecossistema com a academia e a indústria.
Formação
Mais de 165 pessoas estiveram envolvidas no desenvolvimento do Centro Paulista de Transição Energética (CPTEn). Dulcineia Cruz, graduanda da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, é bolsista no Campus Sustentável e participou da elaboração do Centro. Ela ressalta a importância desse percurso e o quanto tem aprendido sobre energias renováveis e eficiência energética.
“Foi algo incrível participar do CPTEn desde seus primeiros passos. Como estudante da graduação, trabalhar ao lado de pessoas engajadas com a transição energética tem sido bastante motivador. A dedicação da equipe foi enorme”, finaliza.
Autor
Inácio de Paula – Campus Sustentável
Fotos
Divulgação